1. APRESENTAÇÃO DO CURSO

1. APRESENTAÇÃO DO CURSO.

Fonte de São José - Vaticano.
Considerando que o nome José é ainda muito popular em muitos lugares, que muitíssimas Igrejas são dedicadas a ele no mundo inteiro, que ultrapassa o número de 200 as Congregações Religiosas que o têm como protetor e que ele é o Patrono Universal da Igreja Católica, pode-se dizer que São José não é pouco conhecido, mas sim que é mal conhecido. 

Por muitos séculos foi cômodo representá-lo como um velho de barba branca com o intuito de defender com isso a Virgindade de Maria, assim como também não faltaram intenções de mostrá-lo como um viúvo que tinha filhos quando então foi escolhido para ser esposo de Maria e com ela casou-se, pensando-se, que assim se resolveria o problema dos irmãos de Jesus, mesmo se muitos se opuseram a estas conclusões erradas e injustas quanto à sua pessoa. 

José de Nazaré é um homem excepcional que foi escolhido por Deus para ser o esposo da Virgem Santíssima e para servir o Verbo Encarnado, Jesus Cristo. Ele recebeu uma tarefa nobre com uma missão específica dentro do plano da salvação da humanidade e para isso foi enriquecido com uma excepcional dignidade de graças especiais. 

José é um homem profundamente religioso, que vivenciou um vivo senso de Deus na sua vida acatando o primado da vontade divina a seu respeito e tudo isto ele demonstrou quando Deus se dignou entrar em sua casa e com ele conviver, dando prova de uma profunda humildade e de uma obediência incondicional. 

José é uma pessoa grandemente reflexiva e isto ele o demonstrou desde quando procurava entender a divina maternidade de Maria, quando vislumbrando viu o Salvador do mundo nascer na pobreza e ser homenageado pelos pastores e magos, quando o apresentou no Templo, quando na fuga que com ele e sua esposa fez para o Egito e depois de lá voltou para a sua pátria. Em suma, ele, como descreve o evangelista Mateus, é um homem justo, alguém consumado na perfeição. 

Devido a importância deste astro de primeira grandeza, embora ainda bastante escondido, a Igreja ao longo dos séculos não deixou de honrá-lo, e por isso não precisamos ficar esperando que 7 a ela apresente novidades sobre ele, como se tivesse mais o que dizer. Portanto, para nós é importante ressaltar os pontos salientes dos ensinamentos da Igreja através dos Santos Padres, dos Teólogos e dos devotos Josefinos e que se encontram disseminados ao longo dos séculos. 

O objetivo deste nosso curso é de tornar São José conhecido para que também ele seja mais amado e venerado. Felizmente existem uns poucos Centros de Estudos sobre São José em alguns países, os quais têm procurado ao longo destas últimas décadas aprofundar e difundir a teologia Josefina, denominada mais precisamente de Josefologia. Infelizmente a ausência da Josefologia nos currículos dos estudos de Teologia tem contribuído significativamente para um vazio tanto nas pregações como na catequese sobre a importância do Guarda do Redentor no mistério da Redenção. 

Ultimamente, mais precisamente em 15 de agosto de 1989, a Igreja proporcionou-nos reflexões preciosas sobre este a quem Deus “confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos, Jesus e Maria”, ao lançar, por ocasião do centenário da publicação da Carta Encíclica Quamquam Pluries de 15 de agosto de 1889, a Exortação Apostólica Redemptoris Custos de João Paulo II. Com esta a Igreja manifestou toda a importância que São José tem, o qual, ao lado de Cristo, Redentor do homem, e da Mãe do Redentor, recebeu de Deus uma sublime missão, sendo chamado a servir diretamente o, “mistério escondido desde os séculos em Deus” (Ef 3,9), quando na plenitude dos tempos ele enviou “o seu Filho, nascido de uma mulher, para resgatar aqueles que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos” (Gal 4,4s). 

A importância de São José dentro dos planos de Deus é indiscutível porque foi ele justamente chamado para ser o Guarda do Redentor participando do mistério de nossa salvação como nenhuma outra pessoa, com exceção de Maria e sendo justamente com ela envolvido na realidade deste evento salvífico como depositário do mesmo amor com que o Pai “nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por Jesus Cristo” (Ef 1,5). Ele participou juntamente com sua esposa da fase culminante da auto-revelação de Deus em Jesus Cristo tendo sido colocado por primeiro pelo próprio Deus sobre o caminho de peregrinação da fé, sobre o qual Maria caminhou de modo perfeito, participando da mesma fé da Mãe de Deus 8 e sendo-lhe consequentemente o sustentáculo na fé, no evento da divina Anunciação. 

Por tudo o que São José é e representa para a Igreja e para os cristãos, sinto-me contente em poder partilhar com você, caro internauta, um pouco do muito que se tem, embora não em língua portuguesa, sobre José que foi aqui na terra o “cooperador do mistério providencial de Deus”, sendo o pai de Jesus. 

Como religioso e sacerdote membro de uma Congregação que tem como seu Protetor e modelo e tem além do mais, como um dos aspectos de seu carisma a finalidade de “reproduzir na vida e no apostolado o mistério cristão como o viveu São José”, e o empenho de difundir a espiritualidade de São José, espero transmitir um pouco daquilo que o nosso Centro de Espiritualidade Josefino – Marelliano tem como objetivo de aos poucos tornar-se para todo o Brasil um verdadeiro centro de irradiação e difusão da Espiritualidade Josefina. 

Seja São José o nosso guia e mestre nesta diferente e nova empreitada sendo ele, como afirmou o Papa Paulo VI, “uma luz que difunde os seus raios benéficos para todos nós que a partir de agora nos pomos a percorrer nesta nova estrada denominada de Josefologia. 


Pe. José Antonio Bertolin, OSJ

2. CONTEÚDO DO CURSO

2. CONTEÚDO DO CURSO 

A divisão deste curso apresenta-se em quatro partes ou blocos e cada um deles procurando tocar o que de mais específico se fez no campo da Josefologia ao longo dos séculos. Na verdade vamos procurar entrar em contato, também se não de uma maneira ampla, com o que é de maior interesse no conhecimento desta matéria. Sabemos que os católicos, sobretudo tocados pela luz dos dogmas e da própria teologia, têm uma distinção um tanto quanto clara de Jesus e de Maria, mas de José não existe uma melhor definição certamente porque a respeito de sua pessoa e missão existem todavia muitas sombras, seja em consequência de uma herança das fantasias dos apócrifos, seja também de caráter manifestado pela teologia e pela arte. 

A primeira parte procurará abordar os fatos dentro da infância e adolescência de Jesus – Evangelho da Infânciarelatados por Mateus 1-2 e Lucas 1-2, onde procuraremos discernir e fazer considerações sobre as narrações que relatam a genealogia, as cenas da Anunciação e do nascimento de Jesus; em suma, os fatos da infância de Jesus em relação a José. 

Na segunda parte tocaremos os aspectos doutrinais e as considerações teológicas na vida de São José, particularmente o seu matrimônio com Maria, a sua especial paternidade, a sua missão e santidade. Com isso, sem o medo de cair no devocionismo, porque iluminados pelos evangelhos e pelos Padres da Igreja que “desde os primeiros séculos, puseram em relevo que São José, cuidou de Maria com amor e se dedicou com empenho jubiloso à educação de Jesus Cristo”, procuraremos justificar que ele é muito mais que o homem do silêncio, ou simplesmente afirmar que ele não é o verdadeiro pai de Jesus, mas o seu simples pai putativo. 

Na terceira parte abordamos um pouco da pessoa de São José valorizada pelo culto e pela arte, vendo-o não como um velho, mas como um homem forte, trabalhador e educador 10 de Jesus e objeto de fascínio pelos fiéis seus devotos e pelos artistas. Com isso, em referência às pessoas, aos lugares e os tempos, mostraremos o campo percorrido pelo culto ao nosso Santo e a valorização que ele recebeu particularmente das Congregações religiosas, das Confrarias, dos Centros de Estudos Josefológicos, do folclore, da arte, etc. 

Por fim, na última parte daremos uma consideração prática sobre os pontos mais salientes da riqueza doutrinal e espiritual do Documento pontifício contido na Exortação Apostólica de João Paulo II, Redemptoris Custos, assim como algumas outras abordagens complementares na linha deste estudo Josefológico. 

Evidentemente pela performance do presente curso, cada um destes blocos contém os temas relacionados aos pontos a serem abordados na teologia Josefina, temas estes condensados nos flashes mais significativos e importantes no tocante a pessoa, à figura e à missão de São José. Por se tratar de uma disciplina relativamente nova dentro do campo da teologia, esta avia-se para uma melhor concretização e estruturação de seus conteúdos, contudo um pouco do que até hoje já foi produzido em termo de reflexão teológica sobre São José é o suficiente para se ter uma idéia clara e precisa de sua pessoa e de sua importância no momento culminante da história da salvação. 

Sabemos que é comum entre os teólogos a afirmação de que o conhecimento de Maria não é ainda suficiente e não será nunca demais, mas da mesma forma podemos dizer que o conhecimento de São José não atingiu ainda um grau de suficiência e também nunca este será demais. O fato é que ainda existe uma lacuna a respeito da teologia Josefina e isto por vários fatores a começar pelos estudiosos, os quais simplesmente deixaram de divulgá-lo ou até procuraram diminuí- lo como se ele fizesse sombra a Jesus e a Maria, ou até procuraram estudá-lo com estima e competência, mas sem comunicar aos devotos os frutos de seus estudos, a sua estima, veneração ou devoção por ele.

Sabemos que a devoção sem o conhecimento é como um edifício sem fundamentos, uma árvore sem raízes, enquanto que o conhecimento sem a devoção é como um tronco sem flores e frutos. É preciso, portanto que a devoção se fundamente na teologia e que a teologia floresca e se frutifique na devoção. Só assim haverá um reforço e um enriquecimento da figura de São José na Igreja e na vida dos cristãos. 

Levando em consideração o que foi acima exposto, o nosso curso procurará percorrer em caminho de quatro rodas individuadas nas quatro partes ou blocos onde exporemos a matéria e no final de cada parte deixaremos um questionário com duas ou três perguntas sobre a matéria exposta, a fim de que cada participante tenha uma inteiração com o assunto, aprofundando o conhecimento sobre o tema. Não faltarão evidentemente propostas para o aprofundamento pessoal da matéria e oportunamente extensões de aprofundamento do tema conforme a viabilidade. 

Em suma, o objetivo deste é segundo o desejo da Fundação Século XXI e meu, de proporcionar a todos os que disporem fazer este caminho juntos, o aprofundamento da teologia Josefina e com isso alargar os horizontes doutrinais e pastorais em relação ao Guarda do Redentor

3. APRESENTAÇÃO PESSOAL

3. APRESENTAÇÃO PESSOAL 

“São José nos ensina o modo de cuidar dos nossos alunos, aliás, 
seja ele mesmo o seu Guarda” (São José Marello) 

Prezados amigos, 

Chamo-me José Antonio Bertolin, religioso e sacerdote, membro da Congregação dos Oblatos de São José, fundada em Asti-Itália por São José Marello em 1879. Nesta sou sacerdote há 25 anos, mas sinto-me parte dela desde 1963, quando ingressei no Seminário Menor de Ourinhos - SP. Nasci aos 12 de julho de 1949 em Ribeirão Claro- PR. Depois de alguns anos no Seminário de Ourinhos, passei a estudar o ginásio clássico no Colégio São José de Apucarana e em seguida colegial em Curitiba, onde também cursei a Filosofia. Ainda em Curitiba fiz meu ano de Noviciado em 1973. Em seguida fui enviado à Roma onde cursei a Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Ordenado sacerdote em novembro de 1976 fui designado imediatamente formador do Seminário Menor Pe. José Canale em Apucarana-Pr, cargo que exerci por 3 anos, sendo depois nomeado pároco da Igreja São José, hoje Santuário São José de Apucarana, onde desempenhei o cargo por outros 3 anos. 

Em fevereiro de 1983, assumi as funções de pároco da Paróquia Senhor Bom Jesus do Portão em Curitiba por 11 anos, desempenhando paralelamente por dois triênios o cargo de vice- provincial em minha Província. Em 1994 fui nomeado Provincial, cargo que venho ocupando por três triênios consecutivos. Tenho procurado, dentro do espírito de minha Congregação, estudar a teologia Josefina e no decorrer deste tempo pude participar de 3 Simpósios Internacionais de Josefologia, um em Kalisch-Polônia, outro na cidade do México e por fim em Roma, onde também participei de um encontro 13 sobre a espiritualidade Josefina. A medida do possível tenho me dedicado a escrever algo sobre o nosso Santo Patriarca, tanto em nível interno em minha Congregação, como externo com dois pequenos livros: “São José, fiel vocacionado” (Edição Ave Maria) e “São José, imagem terrestre da bondade de Deus”, assim como duas “Novenas de São José” e uma síntese de Josefologia denominada “100 Questões de Josefologia”. Por fim, alguns escritos sobre a vida do Fundador de minha Congregação, São José Marello e algo sobre Jesus Cristo.

Pe. José Antonio Bertolin, OSJ

Curso de Josefologia. Índice e links de acesso rápido.

Curso de Josefologia

Parte I. SÃO JOSÉ NA SAGRADA ESCRITURA.
Parte II. ASPECTOS DOUTRINAIS E CONSIDERAÇÕES TEOLÓGICAS NA VIDA DE SÃO JOSÉ 
Parte III. SÃO JOSÉ NA VIDA DO POVO E NA “REDEMPTORIS CUSTOS”. 
Parte IV. ALGUMAS REFLEXÕES A PARTIR DA “REDEMPTORIS CUSTOS”. 

Quem é São José? (Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 01)

Quem é São José? 
Quais são as suas características? 
Qual é o modelo de santidade que ele representa para os cristãos? 

Estas são interrogações, entre muitas outras, que temos o direito de fazer.

Tentaremos mostrar tudo isso neste Curso, sem esgotar o assunto.

Aliás, diante desta personalidade rica e ao mesmo tempo poliédrica percebemos que, quanto mais descobrimos, mais temos para encontrar.


De São José, na verdade, sabemos muito pouco. O seu nome é citado nos evangelhos apenas quatorze vezes, e os evangelistas lhe dedicam apenas vinte e seis versículos, mas não mencionam nenhuma palavra dele. Claro que isso não nos deve parecer estranho, pois os evangelistas estavam preocupados em narrar a vida de Jesus e o seu ministério. Não possuímos nem mesmo referências sobre o ano nem sobre o lugar onde nasceu. Não sabemos o nome da sua mãe e existem controvérsias a respeito do nome do seu pai (Para os que pensam que a genealogia de Lucas (3,23) dá a linhagem de Maria, e a de Mateus (1,16), dá a de José, Jacó seria o pai de José e Heli o seu sogro. O uso da palavra "pai" no hebraico e no grego, permitiriam que esta fosse usada no lugar de sogro. Para os que pensam que ambas as genealogias dão a linhagem de José, Jacó e Heli seriam irmãos, e segundo o costume, quando Heli morreu, Jacó teria tomado a sua viúva como esposa, e José seria filho de Jacó no sentido literal, e de Heli no sentido legal. Segundo a lei dos Judeus ( Dt 25,5), o irmão deveria continuar a descendência de um irmão morto casando-se com a viúva deste. É possível que José tenha sido filho de Jacó por nascimento, mas filho de Heli por adoção).


Entrou em cena quase desapercebidamente. Não há nenhuma menção sobre a sua vida nem sobre a sua morte, e esse silêncio permanecerá por muitos séculos. Entretanto, foi a ele que Jesus submeteu-se como filho, e foi com ele e nele que Maria encontrou um grande amor e força para desempenhar com perfeição a sua missão sublime.

Na verdade, o mistério de São José está na eloqüência do seu silêncio e no primado do seu amor, sendo assim, a imagem terrestre da bondade de Deus. O seu silêncio é impressionante. Ele é o mais escondido de todos os santos. Talvez por isso tenha exercido e continue exercendo um fascínio na alma de incontáveis devotos. O seu abandono aos desígnios de Deus é total, não pede explicações, não contesta e, mesmo quando entra em cena, aparece quase que de modo obscuro. Se é verdade que, ao referir-se a ele, os evangelhos não usam muitas palavras, é indiscutível que a sua pessoa está envolvida por um halo de luz tão cristalino, que resume a essência do que ele representava, quando afirmam que "era um homem justo" (Mt 1.9).

Era justo com Deus, depositando nele a mais profunda confiança em toda a sua vida. Era justo com o próximo, pois vivia com Jesus e Maria na mais perfeita caridade. Era justo consigo mesmo, pois foi sempre fiel à vocação que recebeu.

São José é um santo no sentido mais amplo da palavra, afirmava um grande devoto josefino. Foi um homem à parte, reservado, retirado, separado. Um homem em quem se diria que tudo é interior. Um homem de Deus, todo de Deus, todo em Deus. Admirado com a extrema simplicidade e os traços de santidade com que José se apresenta, outro grande devoto do nosso santo, Olier, assim se expressou em suas considerações sobre ele: 
José "foi dado à humanidade para exprimir visivelmente as adoráveis perfeições do Pai, para ser a sua imagem aos olhos do Filho de Deus". Então. como deve ser excelsa a sua santidade, a beleza desse grande santo que Deus Pai criou com suas mãos para representar a si mesmo ao Filho unigênito.
São José é, no dizer do Papa Paulo VI, "a luz que difunde os seus raios benéficos na casa de Deus que é a Igreja: preenche-a com profundas e inefáveis recordações da vida à cena deste mundo do Verbo de Deus, feito homem por nós e para nós, e que viveu sob a proteção, a guia e a autoridade do artesão pobre de Nazaré" (Paulo VI , Alocução de 19 de março de 1966). Deus, para realizar o seu grande desígnio de amor, quis servir-se de suas criaturas, entre as quais escolheu duas de seu especial agrado, Maria e José, como testemunhas conscientes e agentes livres e responsáveis. Por isso a participação desses dois astros de primeira grandeza na história da salvação os coloca no centro da história do mundo.

Deus procurou, em todas as gerações, quem pudesse ser escolhido e dado como companheiro àquela que escolhera como mãe do seu Filho eterno. Considerou a fé inabalável de Abraão, a pureza de alma de Isaac, a infatigável paciência e resignação de Jacó, a mansidão e a santidade de Davi, mas o seu olhar divino não repousou em nenhum deles. Foi além, pois só em José encontrou o homem que procurava, e sobre ele recai a sua escolha. "O Senhor encontrou José segundo o seu coração e lhe confiou com plena segurança o mais misterioso e sagrado segredo do seu coração. Desvendou a ele a obscuridade e os segredos da sua sabedoria, concedendo-lhe que conhecesse o mistério desconhecido de todos os príncipes deste mundo (Hom. Super Missus est, PL 183, 70).
"São dele os pesos, as responsabilidades, os riscos e as fadigas da pequena e singular família. É dele o serviço, o trabalho, e o sacrifício, na penumbra do quadro evangélico, no qual é agradável contemplá-lo" (Paulo VI, Homilia de 19 de março de 1969).

Portanto, ninguém pode ignorar o lugar que São José ocupa na hierarquia dos Santos. Se aprofundarmos a sua vida perceberemos que imitá-lo nos parecerá fácil, pois está muito perto de nós. Ele conheceu a luta do dia-a-dia. E a amargura, sendo igual a nós. A amável e singular serenidade que se irradia deste simples leigo com uma grande missão aos olhos de Deus, nos convida afetivamente a nos aproximarmos dele com mais familiaridade, para conhecer e seguir o seu ensinamento, que nos foi transmitido com tanta discrição.

Por isso, nós, católicos, tributamos aos nossos santos um culto de veneração, considerando sempre a dignidade que lhes foi concedida por Deus e os seus exemplos que edificam a nossa vida.

São José fala pouco, mas vive intensamente aquilo que faz, não se subtraindo de nenhuma responsabilidade que a vontade do Senhor lhe impõe. Por isso ele nos oferece um exemplo de atraente disponibilidade à vontade de Deus, exemplo de calma em cada acontecimento, de confiança embebida de sobre-humana fé e caridade, assim como do grande meio da oração (João XXIII, Felicitações apresentadas ao Sacro Colégio em 17 de março de 1963). Por ter sido escolhido como esposo de Maria e pai de Jesus, e devida à abundância de graças que recebeu de Deus, a Igreja sempre lhe tributou um culto especial.

Esse é o motivo porque São José vive na alma do nosso povo, pois o povo o conhece como o carpinteiro de Nazaré, de mãos calejadas por causa do manejo do martelo e do serrote. Mediante os quais tirava o sustento para si com o suor do seu rosto. Ele é um santo que não se encontra na grande galeria dos doutores da Igreja, nem dos sábios, nem mesmo entre aqueles que se revestiram do poder de conduzir a nossa Igreja. Nos céus não o colocamos entre os querubins e os exércitos celestes. Com seu estilo silencioso e humilde de vida, quase desconhecido, ele se assemelha muito ao nosso povo.

Em síntese, os trechos da Sagrada Escritura que falam sobre o nosso Santo podem ser resumidos nos seguintes:

  1. Descendente da casa de Davi - Mt 1,16 / Lc 1,27.
  2. Esposo de Maria - Mt 1,18.
  3. Pai de Jesus - Mt 1,20; 13,55 / Lc 3,23; Jo 1,45 ; 6,42.
  4. Perplexidade diante do mistério da encarnação - Mt 1,19.
  5. Viagem a Belém para o recenseamento ordenado por César Augusto - Lc 2,4-6.
  6. Fuga ao Egito e volta com Maria e o Menino para Nazaré - Mt 2, 14. 19-23.
  7. Perda e encontro de Jesus aos 12 anos no Templo de Jerusalém; em seguida o Menino desceu com eles a Nazaré, onde lhes era submisso - Lc 2,48.
  8. Era um homem justo - Mt 1,19.
Portanto, os dados dos evangelistas sobre São José são estes: era justo, filho de Davi, esposo de Maria, pai de Jesus e carpinteiro. São poucas informações, mas de importância fundamental, como todas as da Sagrada Escritura, pois são como sementes cheias de vitalidade e de conteúdos inexauríveis.

Questões para o aprofundamento pessoal

1. Quantas vezes os evangelhos o mencionam? E qual ou quais seriam seu (s) pai (s)?
2. Como Mateus o define?
3. Dê uma síntese do que os evangelhos falam dele.

A Procedência de José (Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 02)

De São José, na verdade, sabemos muito pouco. Não temos referência sobre o ano nem sobre o lugar do seu nascimento, não sabemos o nome da sua mãe. E existem controvérsias a respeito do nome do seu pai. Os evangelistas Mateus e Lucas o apresentam como descendente do rei Davi (Mt 1, 1-16,20. Lc 1, 27; 2, 4 ; 3,23-31).

No entanto, há uma divergência na genealogia que ambos os evangelistas trazem, pois Mateus percorre, todo o caminho da sua ascendência chegando a Jacó (Mt 1.16), enquanto Lucas diz que ele é filho de Levi (Lc 3.23). Esta questão não chegou até hoje a uma solução satisfatória por parte dos exegetas. Em todos os casos a função da genealogia é justamente fazer Jesus entrar na história humana e documentar que o Verbo se fez carne na linhagem davídica. O intuito do evangelista Mateus é fazer ver a sucessão legal, respeitando os direitos messiânicos de Davi a Jesus . Lucas, do seu lado, quer indicar a sucessão natural de Jesus. O melhor esclarecimento a respeito dessas duas posições podemos fazer, levando em conta a Lei do Levirato expressa no livro do Deuteronômio (Dt 25, 5-10) ela estabelece que a mulher que ficasse viúva devia tornar-se esposa do irmão do esposo falecido, e o primeiro filho desse casamento era considerado filho legal do primeiro marido e filho natural do segundo marido. Com isso, podemos salvar tanto a sucessão legal como a natural de Jesus.

O Ambiente Sócio-Político e Religioso do Tempo de São José (Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 03 )

O ambiente sócio-político-religioso do tempo de São José propiciava não só uma diversificação efetiva, mas também uma forte discriminação disseminada pelas diferentes camadas da sociedade.


Assim, o grupo dos fariseus, além de primar pela busca da ostentação religiosa com uma série de práticas marcadas por orações, purificações, normas de comportamento e pela observância estrita da lei em todas as situações da vida pessoal, era particularmente inimigo dos romanos e evitava todo e qualquer contato com aqueles que não conheciam a lei ou não eram judeus. Uma sociedade dominada por estrangeiros como esta caracterizava-se por um certo pluralismo partidário assim, um outro grupo, formado pelos chamados zelotas, distinguia-se particularmente pela luta contra os dominadores e, guerrilheiros como eram, não deixavam evidentemente de sempre carregar armas nas mãos. Era um grupo isolado. O seu "apartheid" era constituído sobretudo pelas grutas das montanhas na região da Galiléia. Outro grupo que contribuía bastante para acentuar esta fisionomia, secionada do povo judeu era formado pelos monges essênios, os quais, deste o século II a.C., se constituíram em comunidade, vivendo nas margens ocidentais do mar Morto, numa localidade que hoje conhecemos como Quamram. Esse grupo levava a vida ascética, acompanhada por uma disciplina muito rígida. Basta dizer que o membro da comunidade que proferisse uma blasfêmia era automaticamente expulso do seu meio. Esses monges solitários cultivavam o solo, consagravam o tempo ao estudo e, sobretudo, empenhavam-se em levar uma vida muito ascética.

O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO E A VIDA DE JOSÉ EM NAZARÉ (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 04)


José, conforme nos ensinam os relatos da infância de Jesus, era  carpinteiro. Herdou essa  profissão do  pai, pois era costume o pai transmitir a profissão ao filho. Portanto, desde a adolescência ele pertencia à  categoria dos artesãos. Analisando os costumes da época, podemos inferir com toda probabilidade que José era dono de uma oficina, portanto muito mais que um simples carpinteiro. Não fabricava somente móveis, portas e  janelas, como nos  vem à mente que pensamos nos afazeres de um carpinteiro, mas a sua  profissão era muito ampla, abrangendo outras aptidões, segundo as necessidades da pequena Nazaré, onde morava e que com certeza, não oferecia possibilidades de mão-de-obra especializada. José não foi carpinteiro em Jerusalém, ou em Tiberíades, Jerico ou Cafarnaum, onde viviam a aristocracia e a burguesia, e  onde poderia ter executado com maior satisfação trabalhos mais refinados e móveis de luxo.  Ao contrário exerceu a sua dura e obscura profissão em um lugarejo perdido nas montanhas, fora de mão, em um  lugar de lavradores  rústicos, com  casas pobres e muito simples. Assim, teve que se adaptar produzindo objetos rústicos e com técnica atrasada.
Sendo um artesão, um artífice  que, além de  trabalhar com madeira e ferro,  também se adaptava às necessidades dos nazarenos, era uma pessoa muito conhecida, de confiança e benquisto pelos habitantes de sua pequena cidade. Podemos supor que executava a maior parte de seu  trabalho num canto da sua humilde casa.

JESUS CUMPRIDOR DO ANTIGO TESTAMENTO E O SIGNIFICADO DAS GENEALOGIAS (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 05)


Toda a história de Israel é orientada para Jesus, o qual constitui o fato histórico por excelência que dá valor para todo o Antigo Testamento. De fato, Jesus reconhece a autoridade divina do Antigo Testamento e até fixa como objetivo de sua missão o cumprimento perfeito de todo ele ao afirmar “não vim abolir a lei e os profetas...” (Mt 5,17). A lei e os Profetas significam todo o Antigo Testamento. Como enviado do Pai ele cumpriu o Antigo Testamento no arco de toda a sua existência humana, ou seja, desde seu nascimento até o envio do Espírito Santo para sua Igreja. Nele encontra o cumprimento de toda a revelação de Deus (2Cor 1,20). Visto que as promessas do Antigo Testamento foram todas realizadas no Verbo feito carne: “Nós vos anunciamos a boa notícia: Deus cumpriu para nós, os filhos a promessa feita a nossos pais...” (At 13,32s). Foi Jesus mesmo na Sinagoga de Nazaré que depois da leitura do texto de Isaías (61,1s) proclamou solenemente: “Hoje realizou-se essa Escritura que acabaste de ouvir....” (Lc 4,21).
É claro portanto, que o Antigo Testamento era uma promessa, da qual os cristãos são os beneficiários (Gal 3,19). Os escritores do Novo Testamento interpretaram e aplicaram as profecias do Antigo Testamento em base à compreensão da história que é aquela dos próprios profetas, onde foi estabelecido o plano de Deus manifestado em diversas maneiras e modos, durante a história de Israel e por fim colocado em plena luz nos acontecimentos hauridos nos evangelhos. Pois bem, desta plena luz dos acontecimentos que explicitam o plano de Deus e que são marcantes nos evangelhos, José, o Carpinteiro de Nazaré, tomará parte de modo intenso, ainda que de uma maneira silenciosa e sem pronunciar uma palavra.
Dentro do contexto do Antigo Testamento podemos apresentar o significado das genealogias apresentadas no Novo Testamento pelos dois evangelistas Mateus e Lucas, os quais foram objeto de muitas  discussões desde o início dos primeiros séculos da Igreja. Os judeus esperavam um herdeiro e sucessor do Rei Davi e este, nos desígnios de Deus, se concentrava em Jesus, o qual como o Messias seria escolhido da casa de Davi. Portanto, a davidicidade torna-se a “conditio sine qua non” da messianidade. Em vista desta promessa, o ponto central do primeiro capítulo de Mateus coloca Maria grávida pelo Espírito Santo antes de coabitar com José (1, 18), explicitando desta forma a realização da promessa messiânica.

O NASCIMENTO DE JESUS E A SUA CIRCUNCISÃO (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 06)


O evangelista Lucas coloca neste acontecimento o fato de um Decreto para o recenseamento promulgado por César Augusto, fato este que levou José e Maria a dirigirem-se de Nazaré até Belém. Em Lucas (2,1-7) lemos “Naqueles tempos apareceu um decreto de César Augusto, ordenando o recenseamento de toda a terra. Este recenseamento foi feito antes do governo de Quirino, na Síria. Todos iam alistar-se, cada um na sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à Cidade de Davi, chamada Belém, porque era da cada e família de Davi, para se alistar com a sua esposa Maria, que estava grávida. Estando eles, ali, completaram-se os dias dela. E deu à luz seu filho primogênito, e envolvendo-o em faixas, reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria”.

A APRESENTAÇÃO DE JESUS NO TEMPLO E A OFERTA DO PRIMOGÊNITO (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 07)


As referências que Lucas faz no trecho em que focaliza a narrativa da infância de Jesus mostram claramente o cumprimento do Antigo Testamento (Lc 2,22-24). Aliás, como já afirmamos, Jesus  reconhece a autoridade do Antigo Testamento e vê o objetivo de sua missão e o cumprimento de todo o Antigo Testamento “não vim para abolir a lei e os profetas, mas para cumpri-la...” (Mt 5,17). O Antigo Testamento era um tempo de espera que culminou com a vinda  de Jesus, o Filho de Deus (Gl 4,4) cumprindo tudo o que estava prometido.
            A atenção que o evangelista Lucas coloca no cumprimento segundo a lei, mostra a sua preocupação de mostrar como o ingresso de Jesus no Templo é o cumprimento do esperado “dia de Javé”, caracterizado por uma purificação  e de uma excepcional oferta que é o próprio Jesus. De  fato, Lucas serve-se do rito de purificação da mulher que dava à luz, conforme era estabelecido pela lei de Moisés que toda a mãe, após o parto era obrigada a apresentar-se no Templo para purificar-se, pois a mulher após dar à luz era considerada impura (Lev 12,2-4). Para os exegetas, a cerimônia da purificação de Maria é considerada por Lucas como uma simples moldura histórica, na qual ele inseriu um quadro muito importante, sublinhando a excepcional santidade da oferta de Jesus.

A IMPOSIÇÃO DO NOME A JESUS E OS SONHOS DE JOSÉ (Curso de Josefologia - Parte I - Capítulo 08)


Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor  falou pelo profeta: Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel (Is 7,14), que significa: Deus conosco. Despertando, José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa. E, sem que ele a tivesse conhecido, ela deu à luz o seu filho, que recebeu o nome de Jesus” (Mt 1,21-25)
Sabemos que para o povo bíblico o nome designa a própria natureza do ser, as suas qualidades e a missão da pessoa. No livro do  Gênesis (17,5) Javé trocou o nome de Abrão para Abraão porque o tornou pai de uma multidão. Dar o nome ao filho é um direito inerente à missão dos pais, pois estes exercitam a autoridade sobre eles, e de certo modo designam a personalidade deles. De fato, Abraão deu o nome aos seus filhos Israel (Gn 16,15;); Isac (Gen 17,19);  Raquel ao filho José (Gn 30,22-24); Ana ao Filho Samuel (1 Sam 1,20); Zacarias a João (Lc 1,55-64). Na verdade, nesta ótica bíblica, José ao impor o nome a Jesus, o introduziu na descendência davídica com a sua conseqüente messianidade, assim como assumiu sobre ele os direitos de pai. De fato, São João Crisóstomo coloca na boca do anjo do anúncio a José, estas palavras: “Sem bem que tu, José, não tens nada a ver com a geração... te confiro igualmente aquilo que é próprio de um pai, impor-lhe o nome; te confio Jesus para que sejas aqui na terra o seu pai”  (In Matthaeum homilia IV: MG 57,46-47).

A FUGA, A PERMANÊNCIA E A VOLTA DO EGITO (Curso de Josefologia - Parte 1 - Capítulo 09)


  O relato da fuga e da permanência da Sagrada Família no Egito é um particular, que devemos à pena do evangelista Mateus. Neste relato Mateus mostra José no exercício de seus direitos e de suas funções de chefe da Sarada Família. É a ele e que anjo do Senhor aparece, é a ele que o anjo fala, é a ele que vem comunicada a destinação, é a ele que será depois revelada o tempo da volta para Nazaré.
Depois de ter cumprido todas essas prescrições legais, conforme o costume da época, José sem dúvida pensava que era hora de voltar para sua casa, para o seu trabalho do dia-a-dia, mas o evangelista Mateus descreve que, antes da volta para a Galiléia, haverá um outro fato muito importante, onde a Providência divina recorrerá novamente a ele. Através da comunicação em sonho por um anjo, é-lhe indicado o Egito como meta temporária de fuga, ou seja, até que Herodes morresse. Neste detalhe da fuga e permanência da Sagrada Família no Egito, descrito por  Mateus, lemos: “Levanta-te, toma o menino e sua mãe e foge para o Egito e fica lá até  eu te avisar, porque Herodes está procurando o menino para o matar” (Mt 2,13). A ordem de Deus para se exilar com a família foi cumprida por José imediatamente e com perfeição. “De  noite, tomou o menino e sua mãe e retirou-se para o Egito, onde ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia anunciado por meio do profeta: “Do Egito chamei o meu filho” (2,14-15). Ainda  de noite ele empreende a viagem rumo ao desconhecido, seguindo o  mesmo destino de Abraão, que se refugiou neste país, e de José do Egito, foi salvo ali das mãos de seus irmãos. Havia muito chão a percorrer, era necessário muita coragem e confiança em Deus, diante da ordem divina de que se  exilassem nessa terra estrangeira, pois ali estariam em segurança, e seria dali, daquele país famoso por suas tradições, suas cidades cheias de monumentos solenes e com seus centros culturais e comerciais, que o Senhor seria chamado, como o profeta havia anunciado: “Do Egito chamei  o meu filho” (Os 11,1). É por esse motivo que Mateus vê na fuga ao Egito e depois na volta da Sagrada Família à Nazaré, o cumprimento da verdadeira libertação prefigurada pelo  antigo Egito e individualizada na expressão de Oséias citada acima.
  Na fuga para  o Egito, o evangelista se compraz em mostrar o nosso Patriarca exercendo suas funções e direitos de chefe da família que lhe foram confiados. É para ele que o anjo aparece, é com ele que o anjo fala, é a ele que é comunicado o lugar onde devem ir e será depois a ele que o anjo transmitirá o anúncio de retorno à terra de origem.
Deve-se ressaltar também a palavra “Egito” é uma localidade conhecida no AT não tanto por ser o refúgio dos Patriarcas e de outros personagens, mas sobretudo pelo lugar da dura escravidão do povo hebraico, da qual só o intervento divino pode libera-lo. Jesus é considerado por Mateus o verdadeiro Moisés, pois assim como Moisés acompanhou o povo hebraico até a terra prometida, Jesus o supera entrando na terra de Israel (Mt 2,20-21). O Papa João Paulo II colheu esta intenção de Mateus ao afirmar que: “Assim como Israel tinha tomado o caminho do êxodo, ‘da condição de escravidão’ para iniciar a Antiga Aliança, assim José, depositário e cooperador do mistério providencial de Deus, também no exílio vela por Aquele que vai tornar realidade a Nova Aliança”.  (RC 14).
Neste mistério também José foi o ministro da salvação fazendo escapar da morte a vida ameaçada do Menino Jesus, como rezamos na oração composta por Leão XIII. Eis um motivo a mais para confiar no Patrocínio de São José, pois ainda hoje temos muitas razões para recomendar a São José cada ser humano, como nos ensina o documento Redemptoris Custos (N 31).
O evangelista nos relata com poucas palavras esta fuga para um país estrangeiro, não entrando em detalhes, não indicando o tempo e nem a forma da viagem, nem tampouco descrevendo as circunstâncias do  trajeto. Limita-se a contar-nos o essencial, e o essencial é que Herodes procurava matar o menino Jesus. A  atitude de Herodes não era estranha, pois já havia mandado matar outras pessoas consideradas seus rivais. Esse tirano não era benquisto pelo  povo, e quando morreu, aos 69 anos, os judeus comentavam aos cochichos que ele tinha se “apoderado do trono como uma raposa, reinado como um tigre e morrido como um cachorro”. Mandar matar todas as crianças do sexo masculino, com menos de dois anos de idade, residentes na pequena aldeia de Belém e adjacências, tinha sido um de seus últimos atos infames, bem condizente com  o seu mau caráter.
  Para buscar a  liberdade em outras terras, a Sagrada Família teve que empreender uma viagem penosa e arriscada, pois o Egito não ficava perto. Para atingi-lo era preciso fazer uma caminhada de cerca de 400 quilômetros. É descartada a  possibilidade de que tenham feito essa travessia pelo deserto sozinhos. Certamente serviram-se de pessoas que conheciam esse trajeto para chegar ao  objetivo, pois, além do cansaço da caminhada, havia escassez de água, falta de segurança etc. Mesmo os soldados romanos, equipados e treinados para longas caminhadas, preferiam combater a atravessar aquele deserto, conforme relatou Plutarco.
  Os acontecimentos durante a viagem pelo deserto não  nos foram relatados, portanto não existe nada que  possa satisfazer a nossa curiosidade. Só existem piedosas e  graciosas lendas, descritas com imagens poéticas pelos apócrifos (Os apócrifos são escritos da mesma época dos escritos bíblicos, ou um pouco  posteriores, mas não são tidos como  inspirados, portanto não estão incluídos no cânon oficial. Receberam a denominação de apócrifos, ou seja,  ocultos, secretos, escondidos, porque não eram de  uso público,  ou seja, não eram usados oficialmente na liturgia e no ensino). Algumas dessas lendas encontradas no evangelho apócrifo do Pseudo Mateus e no evangelho Árabe da Infância, relatam que animais ferozes os acompanhavam no  deserto, que bois e outros animais lhes traziam o que era necessário, ou que árvores se inclinavam enquanto o Menino Jesus passava, ou ainda, que árvores secas, sem folhas, tornavam-se frondosas para abrigá-los em suas sombras. Claro que a Providência Divina não deixou de socorrê-los nessa caminhada. Assim, árvores e  palmeiras que se inclinavam para lhes fornecer frutos ou  que faziam jorrar água fresca para  matar a sede não passam de  fantasia dos apócrifos.
  Entretanto, a lenda que teve maior repercussão na iconografia e na literatura encontra-se no Pseudo Mateus, nos capítulos 22 e 24. Ele narra que, “enquanto estavam conversando, viram á sua frente os montes do Egito e suas cidades. Com alegria chegaram aos limites de Ermópolis, e entraram em  uma cidade do Egito chamada Sotine".
Como não houvesse ali nenhum  conhecido em cuja casa pudessem hospedar-se, entraram no templo denominado Capitólio do Egito.
"Nesse templo haviam sido colocados 365 ídolos, aos quais cada dia se atribuíam sacrilegamente honras de divindades. Ora, aconteceu que, ao entrar a beatíssima Maria com a criança no templo, todos os ídolos caíram por terra, ficando completamente estragados e quebrados; assim demonstraram evidentemente que não eram nada”. Prosseguindo a narrativa, diz que “então Afrodísio, governador da cidade, ao saber do ocorrido, dirigiu-se ao templo com todo o seu exército. Os pontífices do templo, ao ver Afrodísio correr ao templo com todo o exército, pensavam que se vingaria daqueles  que  haviam feito os deuses caírem por terra. Mas ele, ao entrar no templo, vendo todos  os ídolos prostrados no chão, aproximou-se de Maria e adorou o menino que ela tinha nos  braços. Depois de adorá-lo, disse a todo o seu exército e aos amigos: “Se este não fosse o Deus do  nossos deuses, os nossos deuses não teriam caído por terra diante dele, nem permaneceriam prostrados na sua presença, de maneira que, tacitamente, proclamou que é o Senhor deles. Portanto, se não fizermos todos, com maior cautela,  o que fazemos aos  nossos deuses, poderemos incorrer  no  perigo de sua indignação e irmos todos ao encontro da morte: como aconteceu ao Faraó rei do Egito, o qual, não dando atenção aos múltiplos prodígios, foi submerso ao mar com todo o seu exército. Então todo o povo daquela cidade acreditou, por meio de Jesus Cristo, no Senhor Deus".
  É interessante notar que esta descrição, imaginária ficou imortalizada no mosáico da abside da basílica Santa Maria  Maior de Roma, onde  está representada a cena de Afrodísio. Essa mesma realidade religiosa também  é lembrada  na prática de piedade das “Sete dores e alegrias de São José”, que lembra a alegria de São José “ao ver cair por terra os  ídolos dos egípcios”.
  Quanto ao  lugar onde a Sagrada Família viveu no Egito, não é possível  precisá-lo. Mateus é tão genérico neste ponto que  podemos concluir que bastou José chegar à fronteira do Egito, ao sul de Gaza, em direção a Wadi Aris,  para estar seguro, fora do domínio de Herodes. Contudo, são diversas as localidades que disputam a honra de ter hospedado a família imigrante de Nazaré. Entre elas destacamos Heliópolis, lugarejo distante 10 quilômetros de Cairo. Também no vilarejo de nome Matarieh, próximo do Cairo, num  lugar denominado “Jardim de Bálsamo”;  são venerados um antigo sicômoro, conhecido com “árvore da Virgem”, e uma fonte, cuja tradição busca uma interpretação no “Evangelho árabe da Infância”, explicitando que a Sagrada Família se dirigiria ao sicômoro hoje chamado Matarieh e Jesus fez com que ali brotasse  uma fonte, na qual a Senhora Maria lavava as suas fraldas. Do suor de Jesus, que se espalhou, proveio o bálsamo da região (c 24). Hoje nesta localidade está erigida uma igreja dedicada à Sagrada Família. Ainda em Cairo, entre as várias igrejas edificadas, uma das  mais importantes é Abu Sargha, construída segundo a  tradição no  lugar onde morava a  Sagrada Família. Outras  localidades se contentam em ter a honra ao menos da estada da Sagrada Família. Entre elas citam-se Bubaste, Bilheis, Pelusio e Koskam. Os elementos convencionais nos quais essas tradições  se apoiam são quase sempre uma árvore, uma fonte ou uma igreja com uma referência clara a lendas apócrifas.
  Pouco nos importa saber o lugar onde residiram o certo é que foi neste país,  poderoso por causa de seus exércitos ágeis que a Providência os colocou por algum tempo, alojados provavelmente em um dos bairros hebreus, situados numa cidade próxima à fronteira oriental. Numa dessas localidades os “hebreus podiam encontrar auxílio e conforto junto aos compatriotas que viviam naquele país, famoso por suas tradições antigas, por suas cidades de monumentos solenes e  por seus centros culturais e comercias onde pulsava a vida do  grande mundo. No ambiente onde a Sagrada Família passou a viver, assim como em todo o Oriente, iniciara-se o culto ao imperador e o número de ídolos era bastante elevado: adorava-se o carneiro,  o abutre, o crocodilo, o falcão... Além do mais, existiam um vasto domínio de magia e de superstições, especialmente no interior”.
  Com a solidariedade de seus compatriotas, José encontrou um lugar para instalar-se com a sua família e deu  início à nova vida em terra estrangeira, sem despertar nenhuma atenção para os israelitas que ali viviam. Juntos, os israelitas em país estrangeiro formavam uma associação mais bem estruturada e funcional do que na sua própria pátria, pois, pressionados pelas circunstâncias, precisavam ajudar-se mutuamente para subsistir.
  O tempo foi passando e o exílio determinado pela Providência chegava ao fim. Segundo uma das versões mais prováveis, dois anos após a matança dos inocentes, Herodes morreu depois de  uma doença dolorosa e repulsiva. Livre do tirano, o Anjo apareceu novamente em sonho a José no Egito e lhe disse: “Levanta-te, toma o menino e a mãe e retorna à  terra de Israel... José levantou, tomou o menino e a mãe e foi para a  terra de Israel. Mas, tendo ouvido que Arquelau reinava na Judéia em lugar de seu pai Herodes,  teve receio de ir para lá. Avisado em sonho, retirou-se para as bandas da Galiléia, indo morar numa cidade chamada Nazaré” (Mt 2,20-23). Solicito como sempre, José preparou tudo, pegou o menino e sua mãe e se pôs a caminho em direção da sua terra de origem. Voltar para a sua terra era, sem dúvida, motivo de grande alegria, porém o clima por lá estava tenso e semeado de discórdia e  violência. A política  não andava bem as revoltas e a guerra civil havia causado muitas mortes. Arquelau, que assumira o governo da Judéia em lugar de seu  pai Herodes da mesma forma um tirano, com sede de poder, e sua fama de atrocidades havia chegado também ao Egito. O povo acabava de sair das mãos de um sanguinário e começava a sentir na carne a dureza de um  novo despotismo. José ao tomar conhecimento de todas essas  péssimas notícias, sentiu medo e, como pai, temeu pela vida do menino. Como bom israelita, gostaria de no retorno, passar  por  Jerusalém, visitar o Templo onde ficou distante de seus olhos durante o período de exílio e dar  graças ao Senhor antes de iniciar a sua nova vida em Nazaré, mas novamente Deus fixou os rumos da sua vida, comunicando-lhe que se dirigisse diretamente a Nazaré, evitando assim qualquer risco de vida para  o menino. Os primeiros anos da vida de Jesus haviam sido cheios de intranqüilidade. Agora, na pacata Nazaré, rodeado por seu ambiente familiar, José podia viver  mais sossegado.
  É importante destacar um fato particularmente significativo nesta moldura do exílio. Tanto a ordem de refugiar-se no Egito como de  retornar à pátria não foi transmitida a Maria. E sim a José, o que evidencia o reconhecimento da sua autoridade ou jurisdição paterna sobre Jesus. Neste acontecimento particular, José exerceu plenamente a sua paternidade, a sua missão de chefe da Sagrada Família e esposo de Maria. Nesse fato vemos a sua  participação e colaboração clara e precisa no mistério da redenção. A ele foi confiado o início da nossa redenção, conforme rezamos na oração da coleta da missa do dia 19 de  março. José foi ao mesmo tempo guarda legítimo e natural, chefe e defensor da família divina, ministério que exerceu durante toda a sua vida.

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Leia e tome conhecimento do relato de Mt 2,13-18, além do motivo da perseguição de Herodes, qual outro o evangelista indica para esta fuga?
2.    Qual é a importância da atuação de José neste fato?
3.    Tome conhecimento de alguns relatos fantasiosos dos apócrifos durante a fuga da Sagrada Família para o Egito?