SÃO JOSÉ, MESTRE E O SEU PERFIL DE VIDA INTERIOR (Curso de Josefologia - Parte II - Capítulo 35)


Não é difícil de se ouvir a afirmação que São José, porque exerceu a sua profissão de carpinteiro em Nazaré para sustentar a sua família, tenha exercido consequentemente uma atividade exterior e por isso tenha tido pouco tempo para as atividades interiores. Na realidade não é assim, pois se  tomarmos a idéia de São Gregório, que coloca a vida contemplativa na caridade, São José a viveu profundamente. Para Santo Tomás a relação da contemplação com o amor é um movimento contínuo, pois é da caridade que um é estimulado para a contemplação de Deus e a contemplação move para o amor.
Aceitando, portanto que a caridade é o início e o fim da vida contemplativa, podemos intuir a grandeza do grau de contemplação de São José, o qual pelo exercício de sua missão de pai de Jesus, encontrou-se ao lado de Maria, no exercício de um amor que lhe é próprio, ou seja, aquele paterno, e que foi correspondido igualmente por um amor singular; àquele filial de Jesus.
A humanidade de Cristo, conjuntamente com sua divindade, foi o instrumento assumido por Deus para a santificação dos homens. As ações humanas de Cristo foram salutares para nós, gerando em nós a graça de  Cristo e por isso a humanidade de Cristo, conjuntamente com sua divindade, foi instrumento de nossa salvação. Diante disto, como podemos negar as inúmeras graças que São José recebeu durante a sua prolongada comunhão de vida e de trabalho com Jesus e Maria? Como podemos negar os benefícios que ele recebeu em comunhão com Jesus?
São José, pelo seu amor paterno e dedicado a Jesus, foi levado a consumar toda a sua vida para Jesus e Maria e a condividir com ambos todos os acontecimentos compreendidos na infância de Jesus. Assim sendo, condividiu também os benefícios do mistério contidos nestes acontecimentos, participando do amor de Jesus que dele provinha.
Toda a vida de São José em contato com Jesus e Maria era portanto pautada pela contemplação do mistério do Filho de Deus em sua casa, na qual palpitava de amor o coração de seu Filho, sempre em perfeita harmonia com os afetos de  sua vontade humana e com o seu amor divino, quando em contato com sua mãe Maria na  pequena casa de Nazaré, e com seu pai putativo José, ao qual obedecia ajudando-lhe como fiel colaborador, no trabalho da carpintaria, como afirmou  Pio XII, em sua encíclica Haurietes Aquas, em maio de 1955.
No desenrolar desta sua vida contemplativa,  como afirmou São Bernardo, “o Senhor encontrou José segundo o seu coração e lhe confiou com plena segurança o mais misterioso e sagrado segredo de seu coração. Para ele revelou a obscuridade e os segredos de sua sabedoria, possibilitando-lhe de conhecer o mistério desconhecido por todos...” (Hom Super Missus: Pl 183,70).
Portanto, se alguém duvida que em São José não houve a dimensão contemplativa, podemos afirmar que o amor que ele vivenciou e participou  juntamente com Jesus e Maria, assegurou-lhe a união entre a sua vida contemplativa e ativa.
O amor de São José para Jesus era puro amor de contemplação desta verdade divina (Jesus) que se irradiava da própria humanidade de Jesus; era  ao mesmo tempo, puro amor a serviço à própria humanidade de Jesus. Com esta preocupação e dedicação para amar e servir a Jesus, José procurou a amar e a ser amado com todas as suas forças e assim chegou ao cume supremo do amor, sendo que não se pode exprimi-lo de outro modo, senão concluindo que depois de Maria, José amou como  José, como afirmou Jerônimo Graccián.
Encontramos em São José uma “religiosa escuta da Palavra de Deus” (RC 5).Esta exemplar escuta foi vivida num clima de silêncio que acompanhava os acontecimentos de sua vida, e que lhe dava o seu perfil interior. Os evangelhos falam que José “fez”, mas este fazer é envolvido num profundo clima de contemplação (RC 28). A contemplação é definida como a ciência do amor (São João da Cruz), é aquela atitude de alguém  que se ilumina do amor de Deus ao considerar a sua beleza; é algo que faz com que a verdade divina não só seja vista, mas amada (Santo Tomás).
Em José esta experiência amorosa da presença de Jesus estava intimamente ligada à sua paternidade, pois com o poder paterno sobre Jesus, Deus comunicou a José o amor correspondente, aquele amor que tem sua fonte no Pai... (RC 27). São João de Catagena citando a frase de Provérbios 6,27: “Pode alguém carregar o fogo sem queimar a própria roupa?, afirma igualmente que “José trazia em seu peito o fogo, isto é, Cristo, aliás, infinitas vezes o tocou com suas mãos, trocou suas roupas, vestiu-o abraçou-o, beijou-o e certamente ardia em si de modo fortíssimo a chama do seu amor” (J.Vives, Summa Josephina, Romae, 1907, nº.  673-675). Por isso José superou todos os santos na vida contemplativa em vista de ser tocado profundamente durante a sua missão pelo exemplo de Cristo e de Maria. É por causa desta sua profunda vida interior alimentada pelo amor, que Paulo VI vê nele “a lógica e a força própria das almas simples e límpidas, das grandes decisões, como aquela de colocar-se imediatamente à disposição aos desígnios divinos a sua liberdade, a sua legítima vocação humana, a sua fidelidade conjugal, aceitando da família a condição, a responsabilidade e o peso, e renunciando, por um incomparável virgíneo amor, ao natural amor conjugal que a constitui e a alimenta” (Homilia 19/03/1969).
 Na verdade, São José experimentou o puro amor de contemplação da verdade divina que irradiava da humanidade de Cristo com o qual ele convivia, assim como também experimentou a exigência do amor, ou seja, o amor de serviço requerido aos cuidados de Jesus (RC 27). Portanto, o amor de São José para Jesus era um puro amor de contemplação da unidade divina que se irradiava mediante a humanidade de Jesus, e também era um amor de caridade, de puro serviço à pessoa de Jesus. Deste amor todo especial entre José e Jesus, não encontramos uma fácil analogia e por isso Gerolomo Gracián falando deste amor disse: “José amou como José” e por isto ele foi amado profundamente e chegou ao cume do amor, que foi tal que não se pode definir de outro modo, senão dizendo que depois de Maria, “José amou como José”.

Questões para o aprofundamento pessoal

1.    Como São José viveu a sua dimensão contemplativa?
2.    Além do amor dedicado a Jesus e Maria que favoreceu profundamente a sua contemplação, indique como a presença de Jesus e de Maria em sua vida fortaleceu a sua contemplação.